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Nem tudo que parece dar errado na pesquisa científica é o fim: CALMA.

Por Dr. Ivson Bezerra da Silva

publicado: 19/03/2019 22h11, última modificação: 19/03/2019 22h29

Esse post é para compartilhar com vocês um trabalho produzido na minha iniciação científica, realizada durante meu curso de graduação em fisioterapia na Universidade Federal de Pernambuco, entre os anos de 2009 e 2011. Coordenado pela Prof. Dra. Silvia Moraes, a pesquisa era uma parte do doutorado de um estudante do grupo (Rodrigo Fragoso, hoje Prof. Dr. da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará) e tinha por objetivo avaliar o efeito do ultra-som terapêutico na regeneração do nervo periférico (nervo isquiático) de ratos submetidos à neurotmese. Só quem trabalha com modelos animais sabe do perrengue que é, né verdade? Após fazer a lesão de neurotmese (secção total do nervo), seguida da cirurgia de tubulização utilizando um tubo de polietileno (um pedaço de sonda nasogástrica), os animais eram mantidos por 60 dias, tendo um protocolo de aplicação de ultra-som terapêutico por 5 vezes na semana durante 8 semanas. A cirurgia de tubulização consiste em suturar os cotos neurais na extremidade de um tubo que servirá como guia para o encontro dos cotos quando os mesmos se desenvolverem. Nossa hipótese era que a aplicação do ultra-som favoreceria este processo, acelerando-o. Para nossa surpresa, após o sacrifício dos animais e coleta dos fragmentos dos nervos recém-formados não havia diferença entre os grupos (controle e ultra-som), do ponto de vista de regeneração (analisamos número de vasos sanguíneos, quantidade de fibras nervosas e espessura da bainha de mielina). A primeira coisa que fizemos, após chorar, claro, foi nos perguntar o porquê da ausência da diferença. Depois de muito pensarmos, uma boa tarefa para um grupo de pesquisa científica é pensar coletivamente, chegamos a conclusão que havia uma alta impedância acústica no polietileno que impedia ou minimizava o efeito das ondas mecânicas do ultra-som. Foi daí então que surgiu a ideia de trabalharmos com o biopolímero feito com o melaço da cana-de-açúcar, que além de proporcionar as condições para o uso do ultra-som (que rendeu uma tese de doutorado do Rodrigo Fragoso), ainda era uma maneira de eliminar uma nova cirurgia para retirada do tubo de polietileno após a regeneração nervosa, pois o biopolímero era absorvido pelo fragmento nervoso recém formado. Quer ver o resultado desse trabalho? Clica no link abaixo:

https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0717-95022019000100289&lng=en&nrm=iso

Esse não foi o único “erro científico” que terminou em publicação em minha carreira. No doutorado aconteceu algo semelhante, mas este eu contarei numa outra postagem.